PARENTESCO
DA FAMÍLIA ALKMIM, DE CARINHANHA-BA, COM O EX-GOVERNADOR DE SÃO
PAULO E CANDIDATO A PRESIDENTE, GERALDO ALCKMIN.
PARENTESCO
DOS ALKMIMs DE CARINHANHA COM OS ALCKMINs DE GERALDO ALCKMIN (por
Jorge M. de Brito, em junho/2018).
Diante de
declarações do ex-governador de São Paulo e atual candidato à
presidência da República, Geraldo Alckmin, onde o mesmo relata que
nasceu em São Paulo, em uma cidade muito querida, Pindamonhangaba,
porém sua família é baiana: “Minha família, quando chegou da
Espanha, entrou pela Bahia, foi para Carinhanha, no Vale do São
Francisco, depois subiu o rio São Francisco e foi para Januária, em
Minas Gerais, norte de Minas. José Maria Alkimin [(1901-1974),
foi ministro da Fazenda, vice-presidente da República] é de
Bocaiúva, norte de Minas, perto de Montes Claros, meu avô já
nasceu no Sul de Minas, batizado em Cruzília...”, declaraou o
presidenciável durante programa Roda Viva, da TV Cultura.
Seriam,
então, os Alkmim(s) de Carinhanha parentes do ex-governador de São
Paulo?
Consultando
a árvore genealógica do ex-governador, chegamos à conclusão que
sim, conforme documentos adiante apresentados. Antes porém, em razão
de publicações em alguns blogs dando conta de que a “A Guerra dos
dois João em Carinhanha” envolvia o Coronel João Duque (como
sendo avô do ex-deputado do Paraná, Hélio Duque) e o coronel João
Alkmin (avô de Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo),
adiantamos que a história não procede, apesar do Coronel João
Alkmim ser, de fato, parente do ex-governador.
O
embaraço se deu, na verdade, pelo fato de tanto o tataravô de
Geraldo Alckmin quanto o seu bisavô, possuírem o nome João
Alckmin, o primeiro de nome João Capistrano de Macedo Alckmin e o
segundo João Capistrano Ribeiro Alckmin.
Há diversas
passagens na internet, relatando que:
'Antes dos 1700’s nada se sabe
dos Alckmin.
Os poucos registros que temos,
no vale do São Francisco em Minas Gerais e na Bahia, a partir dos
1750’s, falam dos Alcami ou Alcamin, sempre com os mesmos
sobrenomes: Costa de Alcamin Ferreira. Alguns ainda acrescentavam
Brito no final.
Consegui achar quatro deles na
região do vale do rio São Francisco, entre os 1750’s e 1790’s:
O primeiro,
Francisco Lamberto da Costa de Alcamin Ferreira, em 1793, na
cidade da Barra na Bahia, “pessoa nobre e abastada“, foi
nomeado coronel de ordenanças montadas do “arrayal” de
Carinhanha, por Dom Thomas José de Melo, Conselheiro de Sua
Majestade, Fidalgo Cavaleiro da Sagrada Religião de Malta, Chefe de
Divisão da Armada Real, Governador e Capitão General de Pernambuco;
A segunda, Sophia da Costa de
Alcamin Ferreira, que era madrinha de quase “todo mundo” em
Itacambira-MG;
O terceiro, Thomas da Costa
de Alcamin Ferreira, também de Itacambira, vendeu cerca
de 200 cabeças de gado em Diamantina, exigindo recibo do comprador;
O quarto, Felisberto da Costa
de Alcamin Ferreira, também na região de Itacarambi e
Carinhanha, dono de boa parte desses municípios, onde criava
gado e tinha engenho.
Há uma “lenda” que afirma
que uma imagem de Santana percorria as fazendas desses
Alcamins. A mesma “lenda” afirma que a cidade de Feira de Santana
na Bahia, era fazenda de um deles, daí o nome da cidade.
Curioso é o nome Francisco
Lamberto, pois se trata do dominicano francês de Avignon, Franz
Lambert, que largou a batina, aderiu ao protestantismo, e organizou
as Igrejas Protestantes na região do Hesse na Alemanha. Num país em
que a Igreja Católica mandava, e desmandava, colocar o nome de um
protestante inimigo figadal da Igreja, num filho, é algo para se
pensar dessa família…'
O
tataravô (materno) do tataravô de Geraldo Alckmin (ex-governador de
São Paulo), conforme detalhado mais adiante, foi José da Costa
Alcamin Ferreira (juiz de órfãos em São João del Rei nos
1770’s) esposo de Maria Josefa Caetano Moura. Sua filha Maria
Josefa de Alcamin era mãe solteira e foi a responsável pela
alteração do sobrenome “Alckmin”, pois registrou sua
filha com o nome Maria Emiliana Justina de Alckmin, empregando a
grafia “Alckmin” ao invés de “Alcamin” do seu sobrenome.
Percebe-se,
assim, que o sobrenome do tataravô (materno) do tataravô de Geraldo
Alckmin (ex-governador de São Paulo), José da Costa Alcamin
Ferreira, que foi juiz de órfãos em São João del Rei por volta
do ano de 1770, é o mesmo sobrenome de Francisco Lamberto da
Costa de Alcamin Ferreira, nomeado coronel do “arrayal” de
Carinhanha, em 1793. A mãe de João Alkmim se chamava Jesuína
Costa de Alkmim Ferreira, ou seja, possuía o mesmo sobrenome já
mencionado. Acredita-se que João Alkmim tenha herdado por sucessão
o título de coronel em Carinhanha.
O Coronel
João Alkmim é filho de Vital da Costa Alkmim e Jesuína Costa de
Alkmim Ferreira, nasceu em Jacaré, hoje Itacarambi, em
22/07/1895. Jacaré, pequeno povoado então pertencente ao município
de Januária, no estado de
Minas Gerais, à margem esquerda do Rio São Francisco.
Casou-se com Ana Fonseca de Alkmim (dona Naninha). Com João Alkmim
ainda criança, seus pais mudaram-se para Carinhanha-BA, também à
margem esquerda do São Francisco. A Biografia de João Alkmim está
muito bem documentada por seu sobrinho, Sr. Edson Alkmim da Cunha, no
livro “Minha Caminhada – uma resenha histórica” (Gráfica
Coronário), com relevante acervo fotográfico. Conta o livro que
João Alkmim despontou seu pendor para política e negócios desde
cedo, a ponto de, em 1926, com 30 anos de idade, romper a hegemonia
política do Coronel João Duque, até então chefe inconteste em
Carinhanha, que, desprestigiado, mudou-se para Manga, em Minas
Gerais, de onde voltaria, quatro anos depois, em 1930, com mais de
400 soldados da vitoriosa força revolucionária mineira. Com o
retorno de Duque, João Alkmim viu-se obrigado a embarcar sua esposa
e seus familiares às pressas num vapor – providencialmente
atracado no porto Carinhanha -, com destino a Bom Jesus da Lapa. Em
sequência, fazendo-se acompanhar pelo cunhado Aníbal, Raul (pai do
Sr. Edson), por 10 soldados, por um jornalista baiano conhecido como
Medrado, bateu em retirada, a pé, para o mesmo destino, a 180
quilômetros rio abaixo. Em Lapa, foi detido e conduzido a Salvador
como preso político. A prisão não foi muito longa, de modo que,
pouco mais de um mês depois, estava de volta ao convívio da
família, que o aguardava para decidir sobre o novo caminho a seguir.
As alternativas, entretanto, eram escassas em meio a uma situação
de absoluta vulnerabilidade. Jacobina, próspera cidade situada já
nas proximidades do semi-árido baiano, era vista como a primeira
possibilidade. Santana, então Santana dos Brejos, a segunda
opção, por razões desconhecidas, acabou sendo a escolhida. Em
Santana João Alkmim se tornou bem sucedido empresário e líder
político, conforme bem relatado no livro escrito por seu sobrinho,
chegando a se eleger prefeito de Santana, com posse em 01/02/1948,
governando até janeiro de 1951, liderando por várias décadas o
grupo político denominado “Corrente Velha”. Fez diversos
sucessores, entre eles, seu sobrinho Edson (autor da sua biografia),
eleito em outubro de 1962, por dois mandatos [1963 – 1966 e depois
entre 1973 – 1976]. Mais tarde assumiu o posto de Prefeito de
Santana um dos filhos do Sr. Edson, o dentista Francisco de Assis, o
“Chicão”. Edson Alkmim da Cunha passou seus últimos dias na
cidade de Salvador com a esposa Dona Irineia. Edson faleceu na manhã
do dia 11 de novembro de 2015, na capital do Estado, acometido de uma
pneumonia e falência múltipla de órgãos.
Outra
fonte muito importante que retrata a passagem de João Alkmim por
Carinhanha, trata-se do livro: “Coronelismo e Oligarquias: 1889 -
1943 (A Bahia na primeira República brasileira), do coreano Eul-Soo
Pang, Professor da Vanderbilt University, Estados Unidos. (O autor
manipulou numerosos documentos descobertos, inventariados e
analisados, com um forte rigor metodológico).
Na
pág.198, o autor bem retrata aquilo que intitulou de: “As Lutas
Interestaduais dos Coronéis João Duque e João Alkimin, em
Carinhanha”. Segundo o autor:
“Aquilo que começara como uma
simples disputa eleitoral municipal em Carinhanha evoluiu rapidamente
para um violento confronto entre a Bahia e Minas. Em fins de 1928,
quando seu segundo mandato expirou, o Coronel João Duque concorreu
ilegalmente a um terceiro mandato como intendente de Carinhanha.
Sendo ele próprio o presidente da Junta Eleitoral, confirmou
desavergonhadamente sua própria reeleição. Enfurecido, Vital
Soares (governador da Bahia) rejeitou a afirmação de Duque e
concedeu o reconhecimento por parte do senado ao rival, Coronel João
Alkimin (A Tarde, 5 de julho, 1929; Diário Oficial, 28 de dezembro,
1927, 1º de janeiro 1928; para detalhes ver Pang, “The Politics of
Coronelismo”, pp. 280-81). Duque e seus aliados na Bahia e em Minas
revidaram com violência para impedir que o vitorioso Alkimin tomasse
posse. A situação atingiu seu ponto crítico quando os parentes de
Alkimin, no norte de Minas, resolveram entrar na briga. Assim começou
a longa luta entre Minas e Bahia.
Normalmente uma luta
interestadual poderia ser controlada se os governadores o quisessem.
Porém em 1929 nem Vital Soares (da Bahia) nem Antônio Carlos (de
Minas) se mostravam muito desejosos de acabar com a luta. Ela servia
como uma espécie de teste pré-eleitoral para determinar a força de
cada um no Alto Vale do São Francisco. Além disso, Vital Soares não
podia suportar o fato de Duque e seus companheiros mineiros
derrotarem Alkimin, por ele escolhido, num ano de eleição. Antônio
Carlos estava envolvido na luta interna de poder do PRM (Partido
Republicando Mineiro) quanto à escolha de seu sucessor, e desejava
ardentemente liquidar Alkimin, um conhecido adepto da facção
paulista do PRM, liderada pelo Ministro da Justiça, Viana do
Castelo, pelo vice-governador de Minas, Afredo Sá, e por Carvalho
Brito, todos partidário de Washington Luís e da candidatura
Prestes. A Comissão Executiva do PRM de Belo Horizonte viu-se num
impasse terrível, deixando de indicar Bias Fortes, o nome escolhido
pelo Governador Antônio Carlos; em vez disso, a Comissão ofereceu o
cargo ao ex-presidente Venceslau Brás e depois a Artur Bernardes.
Finalmente o PRM decidiu indicar um candidato de conciliação,
Olegário Maciel, um senador de setenta e quatro anos, e Pedro
Marques de Almeida, também senador porém, além disso, adepto do
governador em exercício. Achava-se que Olegário não terminaria o
mandato, em virtude de sua avançada idade e mau estado de saúde, e
que consequentemente o Vice-Governador Pedro Marques assumiria o
governo, servindo como frente para a máquina política tribal dos
Andrada (governador Antônio Carlos). Essa luta pela sucessão
dividiu o estado em facções, e João Duque foi um fiel soldado do
campo de Antônio Carlos.
Os principais coronéis baianos
do Vale do Médio São Francisco, principalmente os do grupo
anti-Calmon, estavam direta e indiretamente envolvidos na luta
Duque-Alkimin. Franklin, de Pilão Arcado, e Chico Leóbas, de
Remanso, aos quais Vital Soares (e Góis Calmon) tinha motivos
pessoais para perseguir, imediatamente tomaram o lado de Duque.
Outros enviaram seus exércitos pessoais para ajudar Duque. Em
novembro e dezembro de 1929 diversas cartas em termos acres foram
trocadas entre Vital Soares e Antônio Carlos. Ante as ordens do
Presidente Washington Luís, um representante da Procuradoria Federal
da Bahia resolveu indiciar Duque, Franklin, Leóbas e outros coronéis
implicados no chamado “crime de Carinhanha”. A Força Pública de
Minas rapidamente retirou Duque da Bahia. Com Duque em segurança,
fora do estado e imune à indiciação, o governo de Vital Soares
empregou a Força Pública para punir os coronéis do Vale Médio.
Assim, meses antes das eleições, provocou-se uma luta entre os
coronéis e o estado, e em janeiro de 1930 os coronéis baianos não
precisaram de muita persuasão para apoiar a Aliança Liberal na
eleição”.
Na pag.
203, o autor segue:
“... na Bahia, como era previsto, o maior apoio à Aliança Liberal
veio das fileiras dos coronéis do Vale do São Francisco. A disputa
eleitoral para a intendência de Carinhanha, em 1928, e os conflitos
subsequentes entre Duque e a Força Pública de Minas e entre Alkimim
e a Força Pública da Bahia prepararam o caminho para uma ligação
entre os coronéis anti-Calmon e os conspiradores de Minas Gerais.
Lidando habilmente com os aliados de Duque, o Governador Antônio
Carlos organizou uma série de encontros estratégicos entre os
diretores do PRM e os coronéis baianos. Em fevereiro de 1930, Duque
havia se tornado o principal recrutador de adeptos à Aliança
Liberal no Vale”.
A
partir da pág. 211, continua o autor:
“Como predissera o Coronel
David, Duque e um contingente da Força Pública de Minas atacaram
Carinhanha uma semana depois. Provavelmente Duque estivera na
fronteira de Minas depois que a revolução explodiu, porém foi
obrigado a esperar até a rendição final das tropas federais em
Minas. Isso aconteceu no dia 15. Provavelmente ele também foi
informado da rendição, no dia 16, e dois dias depois ele e seus
aliados mineiros estavam em Carinhanha. Após 10 horas de luta entre
Duque e João Alkimin, a cidade caiu nas mãos das tropas mineiras
aliadas a Duque. No mesmo dia, Mário Brant, um dos organizadores da
revolução na Bahia, relatou a Oswaldo Aranha que Carinhanha caíra
nas mãos de Duque, acrescentando que “nossas operações (na
Bahia) vão indo bem, já tendo cumprido os objetivos do
Estado–Maior.
GENEALOGIA
E BIOGRAFIA DE JOÃO CAPISTRANO DE MACEDO ALCKMIN (TATARAVÔ DO
EX-GOVERNADOR GERALDO ALCKMIN).
De AUTORIA DE: JOSÉ NIL TON DE PAIVA (bisneto de João
Capistrano de Macedo Alckmin), Pouso Alto /MG, Julho de 2012. Todos
os direitos reservados ao autor.
NO LINK: